A experiência mariana está na base do carisma salesiano. Desde os inícios do trabalho com os jovens, 08/12/1841, Dom Bosco não teve dúvida de que era ela a mãe cuidadora da sua obra. Com este artigo desejo apresentar o amadurecimento vocacional, tanto em Dom Bosco, como na minha experiência, como presença de Maria que cuida. Apresento também a arte como expressão da devoção a Maria e como ela se integra no seguimento de Jesus. Por fim, proponho a visibilidade mariana que caracteriza o carisma salesiano.
Essa experiência da presença da Senhora eu também sinto hoje na minha vida salesiana. Um fato pode ajudar a entender melhor. Quando revelei aos meus pais o desejo de ser padre salesiano a reação foi divergente. Meu pai, militar, não aceitou. Ele bebia e usou da bebida para me intimidar. Minha mãe e minhas irmãs nunca se opuseram. Quando entrei no noviciado, levei no coração e na mente o peso da negativa do meu pai. Chegou até a dizer se caso eu deixasse tudo, não poderia mais voltar para casa. Na capela do noviciado tinha uma bela imagem de Nossa Senhora Auxiliadora. Eu me ajoelhei diante dela e pedi um sinal. Pedi que ela deveria dar um jeito na situação e fiz dois pedidos: que meu pai deixasse de beber e aceitasse a minha vocação. Anos depois, 1994, eu com dois anos de padre, estudante em Roma, perdi meu pai. Voltei ao Brasil para o funeral. Dias depois, com minha mãe e irmãs, começamos a rever vários documentos do meu pai e encontrei um álbum. Em cada página uma lembrança desde a minha saída de casa até minha ordenação. Fotos, cartas, santinhos, tudo carinhosamente guardado por ele. Minha mãe não sabia da existência daquele álbum. Ele organizava tudo em segredo. Diante daquilo, eu perguntei se o motivo da morte tinha sido a bebida e, para minha surpresa, minha mãe revelou que desde fevereiro de 1982, ano do meu noviciado até a morte, papai deixou radicalmente de beber. Depois perguntei sobre a aceitação da minha vocação e ela me disse: “seu pai era mais contente do que você. Ele tinha grande orgulho de ter um filho padre”. Não consegui segurar as lágrimas. Imediatamente recordei aquele pedido a Maria. Ela me atendeu. Como não reconhecer neste sinal, nem vou mencionar outros, a vontade de Deus que se revelou a mim pelo carinho materno da mãe Auxiliadora?
Assim foi sendo configurada uma intimidade filial entre um filho, às vezes até rebelde, e uma mãe solícita que, com sinais muito íntimos me ensinou a despertar para a generosidade da resposta vocacional. Ela estava sempre ali, atenta, como nas bodas de Caná, e sempre me recordou que é preciso fazer tudo o que Jesus manda fazer. Aos poucos, aprendi que era necessário encher sempre as talhas de água, abastecer a lamparina com o combustível da escuta atenta, da paciência, da humildade, da busca constante da Palavra, do serviço responsável ao povo de Deus, do sim cotidiano consciente e sem medo, confiando sempre em suas palavras: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.
Maria é a Senhora de muitos nomes e raças. Isto me faz recordar
uma famosa homilia do padre Antônio Vieira sobre o nascimento de Maria:
Quereis saber quão feliz, quão alto é e
quão digno de ser festejado o Nascimento de Maria? Vede o para que nasceu.
Nasceu para que dela nascesse Deus.
(…) Perguntai aos enfermos para que
nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde;
perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos
desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos
desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos
tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados,
dirão que nasce para Senhora da Esperança.
Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes, para Senhora da Paz; os desencaminhados, para Senhora da Guia; os cativos, para Senhora do Livramento; os cercados, para Senhora da Vitória.
Dirão os pleiteantes que nasce para
Senhora do Bom Despacho; os navegantes, para Senhora da Boa Viagem; os
temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida,
para Senhora da Boa Morte; os pecadores todos, para Senhora da Graça; e todos
os seus devotos, para Senhora da Glória.
E se todas estas vozes se unirem em uma
só voz, dirão que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus”. 
(Sermão do Nascimento da Mãe de Deus, www.literaturabrasileira.ufsc.br/_documents/0006-02946.html, acesso 23/09/2019.)
Aproprio-me desta reflexão para manifestar minha gratidão e minha experiência com esta Mãe de tantos nomes e de todos os momentos.





